A caminho, El Niño traz alívio ao Sul
Umidade favoreceu plantação de soja safrinha em Campina da
Lagoa (Centro-Oeste do Paraná), apesar da “neutralidade climática”, que reduz
as precipitações, prevalecer há dois anos
Autor: Cassiano Ribeiro
– Gazeta do Povo
A chegada do El Niño, fenômeno que promete chuvas acima da
média e bem distribuídas para o Sul do Brasil, o Paraguai e a Argentina, é dada
como certa pela meteorologia. Sua influência na agricultura deve ocorrer daqui
dois meses, quando o trigo estiver em fase de colheita e quando o plantio de
grãos de verão estiver começando.
A expectativa dos agricultores é que as precipitações acima
do normal afastem o risco de veranicos como os registrados entre dezembro de
2013 e fevereiro deste ano, que provocaram quebra de quase 2 milhões de
toneladas de grãos no Sul brasileiro. Por outro lado, pode haver redução das
chuvas no Centro-Norte e no Nordeste do país.
Na última semana, a Organização Meteorológica Mundial (WMO,
na sigla em inglês) confirmou que deve haver mudanças nos padrões climáticos
globais entre junho e agosto, quando a safra de milho de inverno estará
definida. Atualmente, apesar do quadro de neutralidade climática anunciar
chuvas abaixo do normal, o cereal vem recebendo boa dose de umidade. O maior
risco é a ocorrência de geadas.
A WMO revelou que dois terços dos prognósticos estudados
indicam que o limite para a instalação do El Niño é agosto. “É muito difícil
que ele não se confirme, mas ainda estamos numa fase de neutralidade”, ressalta
Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Apesar do risco que a chuva representa para o trigo, o El
Niño é tradicionalmente bem recebido pelos agricultores brasileiros. Embora a
relação do fenômeno com os índices médios de produtividade das lavouras seja
questionável, fato é que os rendimentos são maiores em anos com chuvas um pouco
acima das médias.
Além de água suficiente para as plantas, são esperados dias
mais quentes. Chuva e sol é uma combinação perfeita para a soja. Nos ciclos
mais recentes sob influência do El Niño, a média de produtividade da oleaginosa
ficou acima dos 3 mil quilos em estados como Paraná e Mato Grosso.
“Por outro lado, aumenta o risco de seca para regiões
agrícolas do Nordeste como Oeste da Bahia”, lembra Lazinski. O mesmo ocorre com
os produtores rurais australianos, que também sofreram quebras de safra por
causa de estiagem em anos de El Niño.
Com o fenômeno a caminho, os produtores norte-americanos
devem ter um ano de clima misto. As plantações de 2014/15 do Hemisfério Norte
terão influência tanto da neutralidade climática como do El Niño, o que não é
uma notícia ruim. “Por enquanto, não vemos nenhum problema com a safra dos
Estados Unidos, exceto esse atraso na largada do plantio de milho, por conta do
frio”, diz Lazinski.