Por Cíntia Junges, com Gazeta do Povo
A Companhia Paranaense de Energia (Copel) informou que vai
pedir o adiamento de parte do reajuste médio de 35% na tarifa de energia
concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça-feira
(24). Segundo o presidente da Copel, Lindolfo Zimmer, a companhia já solicitou
à agência o efeito suspensivo ao reajuste e vai aguardar resposta da agência
enquanto estuda o porcentual a ser postergado para o próximo reajuste, em junho
de 2015, assim como já ocorreu em 2013. O diferimento também depende da
aprovação da Aneel.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realiza um
protesto nesta terça-feira (24), em Curitiba, contra o aumento na tarifa de
energia.
O grupo é contrário ao reajuste no Paraná e também reivindica
por uma resposta da Copel aos atingidos pela enchente do Rio Iguaçu nas áreas
de barragens nas últimas semanas.
Aumento revela o preço
da crise energética
Muita gente pode não ter prestado atenção às notícias sobre a
crise energética. Hoje o consumidor paranaense não vai mais poder ignorá-la.
Ela existe e tem custo alto. Como se chegou a um porcentual tão elevado, de
35%? Há quatro fatores que precisam ser levados em conta. Custos que aumentam
por causa da inflação, hoje de 6,5% ao ano, aumento de custos operacionais da
própria Copel, o repasse represado no ano passado e a falta crônica de energia
no mercado.
De todos os fatores, o custo operacional é o que menos pesa.
A Copel vem cortando gastos, inclusive com um PDV amplo, que reduziu a folha de
pagamentos da área de distribuição. A inflação está alta, como sabemos. Do ano
passado, foram herdados 4 pontos porcentuais. E aí vem a crise de fornecimento.
Desde 2012 o sistema elétrico usa as usinas térmicas de forma continuada. Elas
são mais caras e o custo é repassado ao consumidor. Ao mesmo tempo, a Copel
estava descontratada, ou seja, não tinha fornecimento garantido para toda a
energia vendida a seus consumidores. No fim de abril, ela fechou essa lacuna,
mas pagou mais caro. O custo maior veio já nesta conta.
Aumentar ou não o preço não é uma decisão só da Copel. Hoje a
Aneel, agência que regulamenta o setor, cuida para que, separadamente, as
operações de geração, transmissão e distribuição das empresas tenham saúde
financeira. Não é uma opção para as empresas usarem o lucro da geração para
sustentar um preço mais baixo na distribuição. Aumentar o preço abaixo dos 35%
médios autorizados pela agência depende de uma negociação em que fique provado
que a operação não será prejudicada por essa decisão. Outra opção usada no
passado é o desconto para o consumidor que paga pontualmente. É legal, mas
penaliza os acionistas, entre eles o próprio governo do estado.
Com o pedido de efeito suspensivo, o aumento que deveria ser
aplicado a partir desta terça-feira (24), data do reajuste da concessionária,
fica suspenso até que a Aneel avalie a situação. A decisão foi tomada após a
manifestação do governador Beto Richa nas redes sociais. "Vamos pedir à
Aneel a suspensão da aplicação para buscar uma solução junto com a Copel",
disse Richa em sua conta no Twitter, na manhã desta terça-feira.
A Aneel aprovou um reajuste médio de 35,05% na tarifa média
cobrada pela Copel. O valor é superior ao índice solicitado pela empresa, de
32,4%. Pela rede social Facebook, o governador Beto Richa (PSDB) informou que
foi "surpreendido" com a decisão da Aneel e que iria solicitar a
suspensão da aplicação do reajuste.
Nas residências, que utilizam a rede de baixa tensão, o
aumento autorizado pela Aneel foi de 33,49%. Para as ligações de alta tensão, o
reajuste pode ser de até 37,35%. A medida afeta 4,2 milhões de unidades
consumidoras localizadas em 393 municípios do Paraná e passa a valer a partir
de hoje.
O aumento foi autorizado pela diretoria da Aneel, em reunião
nesta terça-feira. Os principais aspectos que pesaram na conta, segundo
informações divulgadas pela agência reguladora, foram o aumento dos custos que
a distribuidora teve com compra de energia, a necessidade de contratar energia
nos leilões para suplementação por meio de contratos de energia por
disponibilidade e por quantidade (energia com maior custo), e variação da
tarifa de Itaipu.
Copel pediu reajuste
médio de 32,4%
No final de maio, a empresa de energia do Paraná enviou à
Aneel um pedido de reajuste médio de 32,4% a ser aplicado aos consumidores a
partir do dia 24 de junho. Na época em que pediu o aumento, a Copel informou
que o item que mais pesou na composição do Índice de Reajuste Tarifário
Pleiteado (IRT) foi a compra de energia, que equivale a 19,1% do total
solicitado pela companhia neste ano.
Esse custo foi fortemente pressionado pela queda do nível dos
reservatórios de hidrelétricas e pelo acionamento constante das usinas
térmicas. O valor representa aumento de quase nove pontos porcentuais em
relação ao mesmo custo apresentado em 2013 (10,4%). Essas despesas compõem a
chamada “parcela A”, referente aos custos não gerenciáveis, ou seja, aqueles
sobre os quais a empresa não tem controle.
Completam ainda o porcentual solicitado pela Copel 1,5% da
“parcela B”, formada basicamente pelos custos operacionais da companhia, e
outros 11,8% dos componentes financeiros, que representam a diferença entre as
despesas que a empresa já pagou e o que ela recebe por meio das tarifas, e que
precisa ser compensado ao longo dos próximos 12 meses.
No custo dos componentes financeiros estão inclusos 5,1% do
reajuste tarifário de 2013 autorizado pela Aneel que não foi repassado ao
consumidor. Na ocasião, a pedido do governo do estado, a Aneel permitiu o
parcelamento do aumento concedido de 14,6%, aplicando um aumento médio de 9,5%
em 2013 e deixando o restante para entrar no cálculo da tarifa deste ano.