Fonte: Maycon Corazza / Gazeta do Paraná - Luiz Carlos da Cruz
A onda de protestos dos caminhoneiros que começou silenciosa há duas semanas no Sudoeste do Paraná se alastrou pelo Brasil e ontem já atingia sete estados. O Paraná foi um dos mais afetados com mais de 20 pontos de bloqueios em diferentes rodovias. Em Cascavel, os caminhoneiros bloquearam a BR-277, nas proximidades do Trevo Cataratas, por aproximadamente quatro horas. No mesmo momento em que se encerrava a manifestação em Cascavel, outro grupo de caminhoneiros interditava a mesma rodovia em Laranjeiras do Sul, onde contaram com apoio dos professores do Estado que estão em greve.
Apesar de já trazer reflexos econômicos, como o desabastecimento de combustíveis em várias cidades do Sudoeste do Paraná, as manifestações dos caminhoneiros têm apoio do setor produtivo. O presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), José Torres Sobrinho, destaca que em um país onde praticamente toda a produção nacional é transportada por rodovias, os caminhoneiros podem parar toda a nação com facilidade. “A reivindicação deles é legítima. Nós do setor produtivo temos que apoiar e ao mesmo tempo nos preocupar”, afirma o líder empresarial. Para ele, em Cascavel ainda não há desabastecimento, mas isso pode acontecer nos próximos dias.
Cesar Augusto Simonini, diretor comercial da rede de postos Stop, diz que a partir de amanhã pode faltar combustíveis em alguns estabelecimentos. Ele afirma que a rede não está conseguindo nem buscar o produto na refinaria, nem despachar da base de Cascavel para as cidades da região. Apesar disso, a rede composta por 30 postos em 24 cidades é favorável ao movimento dos caminhoneiros. “Somos favoráveis à greve dos caminhoneiros porque o custo do transporte está alto. Apesar das dificuldades é preciso ser feito alguma coisa para o governo tomar atitudes”, diz.
Os caminhoneiros protestam contra a alta do preço dos combustíveis e a alta carga tributária que encarece o transporte. Eles querem uma tabela com preço mínimo por quilômetro rodado. Outra reivindicação é pelo fim do pagamento do pedágio nos eixos suspensos. Hoje os caminhoneiros pagam por todos os eixos, mesmo que ele não esteja rodando.
A greve dos caminhoneiros foi articulada sem alarde na região Sudoeste do Paraná. Idair Parizotto, um dos líderes do movimento, diz que a intenção é expandir para outros estados, além dos sete que já aderiram. Segundo ele, em algumas cidades outros setores também estão parando em apoio à greve. É o caso de produtores de leite da região Oeste de Santa Catarina. Em São Miguel do Oeste (SC), agricultores levaram tratores e máquinas agrícolas para a rodovia e ontem o comércio fechou uma hora mais cedo em apoio aos caminhoneiros.
Parizotto afirma que o descontentamento não é apenas dos caminhoneiros, mas da população de uma forma geral que está preocupada com os rumos da economia do pais. “Não é só o caminhoneiro, é o povão, é a massa que está descontente com os rumos do país, com a corrupção com a roubalheira”, afirma. Segundo Parizotto, para o caminhoneiro autônomo é mais econômico deixar o carro em casa do que rodar devido aos custos.
Reflexos
Em cidades da região Sudoeste do Paraná, a possibilidade de faltar combustível provocou uma corrida aos postos e consequentemente trouxe desabastecimentos. Em Francisco Beltrão, na tarde de ontem não havia mais gasolina e o etanol começava a faltar em alguns estabelecimentos. “Não temos mais nada de gasolina, só etanol e daqui a meia-hora vai faltar”, disse Flávia Fruet, caixa do posto Trovoada, de Francisco Beltrão. “Estamos sem gasolina, somente etanol, desde sábado à tarde”, conta Daniela Cantoni, operadora de caixa do posto Cidade Norte.
No autoposto Kairos, de Dois Vizinhos, na tarde de ontem, não havia nenhum tipo de combustível. “Não tem mais nada, acabou tudo ontem [domingo]”, relatou a auxiliar administrativa Ivânia da Silva Cantelli. Também houve falta de combustíveis em Quedas do Iguaçu e Pato Branco. Em Foz do Iguaçu, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) decidiu não abastecer pequenas aeronaves no aeroporto internacional. A medida pretende evitar que falte combustíveis para os aviões que fazem voos regulares.
O diretor-regional do Sindicombustíveis (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, derivados de Petróleo, Gás Natural, Biocombustíveis e Lojas de Conveniência), Roberto Pelizzeti, disse que no Sudoeste aconteceu uma corrida desnecessária aos postos. Para ele pessoas que poderiam abastecer na próxima semana correram aos postos com medo da escassez. Segundo ele, a região Sudoeste é diferente de Cascavel onde boa parte do combustível é transportada por ferrovia.
A paralisação, no entanto, não agrada a todos os motoristas. É o caso de Lindemberg Nunes, motorista de uma transportadora de Curitiba que vê o movimento como político. Ele conta que ficou parado dois dias no bloqueio em Medianeira, no Sudoeste, e agora está retido em Cascavel. “É briga política e a gente que está pagando o pato”, diz.
Os caminhoneiros paraguaios Victor Barreto, Julio Cesar Fernandez e Fermin Vaz viajavam em comboio transportando soja quando foram parados no bloqueio em Cascavel. Eles aproveitaram o tempo parado para tomar tererê enquanto os caminhos estavam retidos. Barreto diz que a reivindicação é justa e afirma não entender o fato do diesel estar caro no Brasil enquanto que em seu país o valor do litro está caindo. “Paraguai não tem petróleo e baixa, Brasil tem petróleo e está alto. Roubaram toda a Petrobrás, né? E quem está pagando é o povo”, diz.
Truck
Até a abertura do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck que acontece domingo (1) em Caruaru (PE) está ameaçada pela greve dos caminhoneiros. Os caminhões dos pilotos Djalma Fogaça e Raijan Mascarello passaram a segunda-feira retidos em um bloqueio próximo a Belo Horizonte (MG). Mesmo assim, Fogaça apoia a manifestação. "É uma situação que nos pegou de surpresa, mas considero que é um movimento justo, que tem o nosso apoio. Afinal, não dá para o pessoal trabalhar nas estradas com esse preço que tá o diesel, mais os pedágios e impostos. Agora é torcer para que o pessoal consiga andar e chegar a tempo em Caruaru", afirma.