Fonte: Folha UOL
A adesão a vacinas, algumas delas obrigatórias para crianças e disponíveis no SUS, caiu no país e tem preocupado especialistas.
A situação é atribuída mais a um descaso da população, especialmente quando a vacina exige mais de uma dose ou reforços, do que à influência de grupos antivacina. No ano passado, a imunização contra a poliomielite atingiu 84% da cobertura, mas a meta era ter imunizado 95% do público alvo. Foi o menor índice da última década.
No Brasil, não são registrados casos de pólio desde 1990. Para o Ministério da Saúde, a baixa adesão também está relacionada ao sucesso na erradicação da doença.
"A população começa a achar que não precisa mais vacinar e não completa o esquema. Leva o filho para tomar a primeira dose e vai descuidando das outras", afirma Carla Domingues, coordenadora do programa de imunizações do ministério.
Segundo a pediatra Isabella Ballalai, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), muitos pais, pelo fato de os filhos estarem com a caderneta de vacinação em dia, não os levam para receber as doses de reforço. "Dá preguiça, o pediatra fala que não precisa." No caso da pólio, é importante completar o esquema vacinal porque o vírus ainda circula no mundo e, se houver brecha, pode ser reintroduzido no Brasil. Nove países da África e Ásia registram casos.
Foram justamente essas "brechas" vacinais que levaram o país a enfrentar um surto de sarampo no Ceará entre 2013 e 2015. Iniciado a partir de um caso importado, o surto atingiu 38 municípios, totalizando 1.052 casos.
Em 2016, quase 25% das crianças não compareceram aos postos para tomar a vacina que protege contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora (tríplice/tetra viral). Para o ministério, a taxa menor de cobertura está relacionada ao fato de essa vacina ser nova no calendário (entrou em 2013) e o aumento na adesão está sendo gradativo. "Estamos tendo vários surtos de caxumba e de catapora pelo país e isso está ocorrendo por falta de vacinação", diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos. No ano passado, a cidade de São Paulo registrou 3.206 casos em surtos de caxumba, a maioria deles em escolas.
O ministério afirma não dispor de dados nacionais sobre a doença, que não é de notificação compulsória. Segundo Carla Domingues, a taxa de cobertura das vacinas até os 12 meses de idade é elevada (de 95%, em média), mas, com o passar do tempo, a tendência é a adesão diminuir. Aos quatro anos, apenas 50% das crianças estão com o esquema vacinal completo. "Se há atraso, a eficácia é menor."
A estimativa do ministério é que, na população não vacinada, 85% dos adultos poderão ter caxumba, que costuma ser severa e pode causar encefalite e meningite. A catapora também preocupa, especialmente entre grávidas. A doença pode causar má formação fetal e traz risco para a mãe. "No ano passado, uma paciente grávida morreu por complicações associadas à catapora. A doença aumenta muito a chance de a gestante ter pneumonia, além do risco de malformações e morte fetal", explica Timerman.
A vacina contra o rotavírus humano, que protege contra gastroenterite, é outra que sofre resistência e que ficou abaixo da meta (89%).