Fonte: O Globo / Foto: Nasa
Desprendeu-se na Antártica um dos maiores icebergs já identificados pela ciência, informou o relatório divulgado nesta quarta-feira por pesquisadores do Project Midas. O bloco gigante que se soltou da plataforma de gelo Larsen C, a Oeste do continente, tem impressionantes 5,8 mil quilômetros quadrados, 200 metros de espessura e pesa mais de um trilhão de toneladas — o equivalente à área do Distrito Federal, no Brasil. O satélite Aqua, dos Estados Unidos, foi o responsável por confirmar o já aguardado desprendimento, identificando um "canal" de água limpa entre o bloco e a plataforma.
Cientistas que monitoram a Antártica já esperavam que o bloco de gelo se desprendesse. Eles acompanharam o desenvolvimento de uma fenda que começou a se abrir na borda da plataforma há mais de uma década.
Com o passar dos anos, a fenda foi avançando sobre o continente, até chegar a outro ponto do litoral, finalmente destacando uma parte da plataforma e soltando-a no mar do Pólo Sul. O processo se acelerou a partir de 2014. Este ano, a rachadura cresceu 17 quilômetros em apenas seis dias, de 25 a 31 de maio, e uma curva na estrutura de gelo indicou a iminência do rompimento. Na última medição, apenas 5 quilômetros seguravam o bloco à Antártica.
Como o iceberg já estava flutuando, ele não provoca impactos na elevação do nível do mar. Com o desprendimento, a plataforma Larsen C perde mais de 12% de sua área. O temor dos cientistas é que ela comece a desmoronar, como aconteceu com as plataformas Larsen A e B, em 1995 e 2002, respectivamente.
— Isso resultou na aceleração dramática das geleiras atrás deles, e volumes maiores de gelo entraram no oceano e contribuíram para a elevação do nível do mar — explicou David Vaughan, do Instituto Britânico Antártico, à Reuters. — Se agora a Larsen C começar a recuar e, mais adiante, desmoronar, teremos outra contribuição.
SEM INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO GLOBAL
Apesar de as regiões polares serem as mais afetadas pelo aquecimento global, o glaciologista Martin O'Leary, da Universidade Swansea, considera o desprendimento do iceberg um fenômeno natural, sem influência das mudanças climáticas.
— Não temos indicação de links com as mudanças climáticas, mas o evento coloca a plataforma de gelo em posição muito vulnerável — destacou O'Leary.
De acordo com os especialistas, o bloco de gelo não deve se mover para longe da Antártica no curto prazo. Mas será preciso monitorar a sua movimentação, porque correntes marinhas e ventos podem empurrá-lo para regiões com rotas marítimas e oferecer risco à navegação.
A península se encontra fora das principais rotas comerciais, mas é o principal destino de navios de turismo vindos da América do Sul. Em 2009, os cerca de 150 passageiros e tripulantes do MTV Explorer tiveram que ser resgatados após a embarcação se chocar contra um iceberg.
— O iceberg é um dos maiores registrados e seu progresso futuro é difícil de prever — destacou o professor Adrian Luckman, um dos cientistas do Project Midas, ligado à Universidade Swansea. — Ele pode continuar em um pedaço, mas é mais provável que se separe em fragmentos. Parte do gelo pode continuar na área durante décadas, e partes do iceberg podem flutuar para o norte e entrar em águas mais quentes.
Luckman traça duas possibilidades para o futuro da Larsen C. A plataforma pode, nos próximos meses e anos, avançar gradualmente e ampliar sua extensão, ou sofrer mais eventos como esse, e eventualmente entrar em colapso.
— Mas qualquer colapso futuro está a anos ou décadas — disse o pesquisador.
De acordo com a "BBC", o icerbeg deve entrar na lista dos 10 maiores já vistos pela ciência. Não há, no entanto, paralelo possível com os gigantescos blocos encontrados na Antártica. A mais larga estrutura de gelo captada por satélites, por exemplo, tinha 11 mil quilômetros quadrados. Foi achado na plataforma Ross, em 2000, e recebeu o nome de B-15.
Em 1956, de acordo com a rede britânica, tripulantes de um navio americano reportaram um icerberg de 32 mil quilômetros quadrados — uma estrutura que seria maior que a Bélgica. O recorde não foi instituído por não haver tecnologia de satélites à época para verificar o relatório. Na mesma região do novo bloco de gelo, cientistas encontraram um de nove mil quilômetros quadrados, em 1986, o que alertou os pesquisadores para o desenvolvimento de rachaduras na plataforma Larsen C.