Por Alana Fraga – Revista Globo Rural
O produtor brasileiro de soja deve sair com saldo positivo
nesta temporada, mas ganho será apertado devido ao custo de produção mais alto
da história (Foto: Sergio Zacchi/Ed. Globo)
A safra 2013/2014 brasileira de soja terá novamente uma
colheita recorde, chegando próximo às 90 milhões de toneladas de soja, projeção
equivalente ao previsto para a safra norte-americana, de acordo com o divulgado
num relatório de 23 de janeiro feito por representantes do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) no Brasil. A expectativa
é do presidentes a Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, que também afirmou que
esta será a temporada com o maior custo de produção da história do país.
Durante o evento de abertura oficial da colheita brasileira,
no município de Quarto Centenário (PR), realizado no último sábado com a
presença da ministra da Casa Civil Gelisi Hoffman e do secretário de Política
Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, Silveira afirmou que mesmo
as boas produtividades neste início de colheita não deverão garantir a
liderança do Brasil no ranking mundial de produção da soja. "Por mais que
estejamos colhendo médias muito boas em Mato Grosso, ainda tem muita coisa para
acontecer. Mas mesmo assim, a nível nacional, teríamos que fechar com número
muito alto [de produtividade]. Não acredito que a gente atinja números
superiores a 90 milhões de toneladas. Se atingir ótimo", destacou.
Segundo ele, o maior produtor nacional da oleaginosa, Mato
Grosso começa a colher muito bem, mas sofre com a ferrugem na etapa final da
safra. "Aqueles 30% que serão colhidos no final de fevereiro perdem muita
produtividade. Outro problema é a seca que se assola no sul e Sudeste, que
também vai influenciar na produtividade. Também não acredito muito no potencial
produtivo das variedades que temos instaladas. O produtor está entrando com novas
variedades, existem algumas novas no mercado que têm dado boas produtividades,
mas temos poucas variedades, que já estavam muito antigas e que vinham
emperrando esses ganhos de produtividade", analisa o produtor.
Custos
O produtor brasileiro de soja deve sair com saldo positivo
nesta temporada, mas seu ganho será apertado porque vai ter o custo de produção
mais alto da história neste ano. "A conta é simples: o custo em Mato
Grosso, que vai colher em média 52 sacas por hectare com preço médio de R$ 50,
terá um ganho médio de R$ 2.600 por hectare. Estamos com um custo total médio
de R$ 2.300. E esses custos estão cada vez mais aumentando, com uma aplicação a
mais que inseticida que você faça, uma aplicação de fungicida, já são mais R$
200", calcula Silveira.
Logística
Para agravar ainda mais a situação, o presidente da Aprosoja
diz que os produtores não têm motivos para estarem otimista com relação à
logística neste ano, já que não houve melhorias significativas. De acordo com
Silveira, caso o governo federal tivesse investido os R$ 580 milhões que
injetou no porto de Cuba, o produtor brasileiro estaria recebendo R$ 260 a mais
por hectare nesta safra. "Se a gente não tivesse problemas de porto,
tivéssemos uma logística no mínimo adequada, que pudesse exportar na hora
certa, hoje a soja estaria pelo menos US$ 2 a mais por saca. Isso representa
quase R$ 6 a mais por saca. Isso aí muda a conta", calcula.
"Saímos de uma safra anterior em que colhemos 67 milhões
de toneladas para uma outra do ano passado em que colhemos 82 milhões. Ou seja,
um incremento de 15 milhões de toneladas. Aí você sai de uma safra de 82
milhões de toneladas para 90 milhões, são oito ou 10 milhões de toneladas a
mais. Em dois anos, teremos um incremento de cerca de 30 milhões de toneladas.
E o que tivemos de incremento em estrutura de porto?", questiona.
Com isso, o preço da soja já sofre pressões. Na comparação
com os preços da commodity no mesmo período do ano passado pela Bolsa de
Chicago, o produtor brasileiro está recebendo US$ 1,5 a menos nesta temporada.
"Isso é custo porto, custo logística. Toda aquela tragédia que tivemos no
ano passado do custo logística, de US$ 50 a mais que deu de custo, agora as
tradings jogaram US$ 100 para o produtor. Ela perdeu 50 dólares por tonelada no
ano passado por conta disse. Agora ela jogou 100 dólares a mais para o
produtor: ela vai recuperar do ano passado e jogar margem para caso ter uma
tragédia maior".