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Por Walter Pereira
O dia hoje promete ser tenso na Câmara de Vereadores de Campo
Mourão. Após a Comissão de Legislação e Redação (CLR) ter julgado procedente
representação contra o presidente Pedro Nespolo (SDD), os vereadores devem
votar nesta terça-feira o projeto de resolução decidindo ou não pela cassação
de seu mandato. O relatório final da CLR foi lido ontem no plenário. Nunca
antes na história da Câmara do município um presidente foi cassado.
A sessão dessa segunda-feira, teve o plenário lotado. Nespolo
usou a tribuna livre da Câmara e voltou a criticar a forma como a Comissão
conduziu os trabalhos. Segundo ele houve 'abuso de poder'. O parlamentar chegou
a ser aplaudido por algumas pessoas. Ontem à tarde, alegando irregularidades
nas reuniões da CLR, o vereador Olivino Custódio (PR), entrou na Justiça com
pedido de liminar para anular os atos da Comissão, mas a juíza da 1ª Vara
Cível, Gabriela Luciano Borri Aranda, negou.
O presidente da CLR, Sidnei Jardim (PPS), informou ontem à
TRIBUNA que a representação contra Nespolo, protocolada na Câmara pelo servidor
Osmar Lima Barbosa Filho, o 'Espaia Brasa' pede a cassação do vereador por
crime de improbidade administrativa e quebra do decoro parlamentar. O presidente é acusado da utilização da
estrutura jurídica do Legislativo e recursos públicos em benefício próprio.
Para ter o mandato cassado, Nespolo precisa receber sete
votos. Jardim explicou que para a decisão da Comissão foram realizadas inúmeras
diligências. Segundo ele, o processo está correndo desde meados de abril.
"Foram feitas várias reuniões e diligências, dado direito de defesa para o
vereador", frisou. O presidente da CLR comentou que foram também ouvidas
todas as dez pessoas - vereadores e servidores do Legislativo-, indicadas por
Nespolo em sua defesa. "Não resta nenhuma dúvida a Comissão que ele tenha
cometido ato de improbidade administrativa", afirmou.
Segundo Jardim, a Comissão entendeu que foram pelo menos dois
os atos ilegais cometidos por Nespolo: o de pagar honorários advocatícios com
dinheiro da Câmara para ação que seria pessoal e o de utilizar advogados da
Câmara para o caso. "A comissão entende isso como crime de improbidade
administrativa e quebra de decoro parlamentar", ressaltou.
Democracia
Jardim negou ainda as acusações de Nespolo, de que a Comissão
teria sido conduzida por ele com 'arbitrariedade' e 'abuso de poder'. Segundo
ele, a CLR foi conduzia de forma 'mais democrática possível'. "Fizemos
reuniões que nem precisavam ser feitas, ouvimos as pessoas que ele indicou.
Pelo regimento nós nem precisávamos ouvir essas pessoas, mas ouvimos por
excesso de democracia", argumentou.
Ele acrescentou que também, praticamente todos os vereadores
compareceram e falaram nas reuniões da Comissão. "Foi o mais transparente possível, de
forma aberta e sempre pública", emendou.
Conluio político
Com a decisão da CLR, o presidente da Câmara, Pedro Nespolo
(SDD), diz que está sendo vítima de um 'conluio político'. "Esse é o preço
que se paga por fiscalizar, gerenciar com transparência, não ceder a negociatas
e tentar desenvolver um novo modelo de gestão política", disse. Segundo
ele, se vir a ser cassado, o que classificou de 'covardia', recorrerá à
justiça. O vereador entende que o caso deveria antes passar por uma Comissão
Processante (CP).
Segundo Nespolo, a Comissão 'ignorou' o depoimento dos
servidores da Câmara e parecer da Associação das Câmaras Municipais da
Microrregião Doze (Acamdoze), que deu parecer legal a ele sobre o caso.
"Os vereadores Sidnei Jardim e Edilson Martins, encaminharam relatório
pedindo minha cassação com base em trechos de pareceres hipotéticos, que não
analisaram o fato", criticou.
O presidente reclamou que a Comissão foi conduzida com
'arbitrariedade, abuso de poder e totalitarismo' por Jardim, presidente da CLR.
Segundo ele, Jardim 'negou direito à voz aos demais vereadores, escondendo o
processo (negando pedido de vistas), agindo às escondidas'. Da mesma forma,
Nespolo criticou o relator, Edilson Martins, que segundo ele, também não teria
comunicado Olivino Custódio, membro da CLR, sobre o caso.
"Todas as ações do presidente Sidnei Jardim foram
avalizadas pelo vereador Edilson Martins, o qual havia garantido ao Olivino
Custódio que iriam sentar e discutir o caso para só então desenvolver o
relatório. No entanto, chegou à reunião com o relatório pronto em um processo
que não havia relator definido", falou. Ele disse ainda que o relatório
foi produzido com 'total ausência de razoabilidade e proporcionalidade'.
O caso
O processo contra Nespolo foi protocolado na Câmara em meados
de abril deste ano, pelo servidor Osmar Lima Barbosa Filho, o 'Espaia Brasa'.
Ele alegou que o presidente utilizou a estrutura do Legislativo para ação
particular. O processo era para proibir a imprensa de inserir notícias ligadas
a um segundo vídeo que seria publicado por Espaia Brasa. O material seria a
continuação do primeiro vídeo 'armação política', que também foi publicado na
internet por Filho. A justiça concedeu liminar favorável a Nespolo.
O Ministério Público (MP) de Campo Mourão também ajuizou Ação
Civil Pública, contra o presidente da Câmara. A ACP foi assinada por cinco
promotores. A alegação é que Nespolo utilizou a estrutura da Câmara para
ajuizar ações de caráter pessoal. Ainda segundo a promotoria, ele teria
utilizado dinheiro da Câmara - R$ 1.129,99-, para o pagamento das custas
processuais das ações, que eram contra o site de busca Google Brasil para
retirada do vídeo do ar e a outra para impedir a divulgação do segundo vídeo
pelos veículos de comunicação.